Considerações Pascais - Rescaldo Recesso

A Páscoa é um assunto muito jeitoso para cronicar. Não encerra em si aquele buliço consumista do Natal, nem as sandices do Carnaval, mas, não desfazendo, dá para opinar bastante, sim sra.

Por um lado, a empreitada das arrumações cujo prazo de realização se estica o mais possível, de modo a que a casa fique "fresquinha, fresquinha" para aquele brevíssimo, efémero e algo ingrato momento anunciado pela criança que toca a campainha e cujo esquadrão nos dá o Jesus a beijar. Esvaziam-se as estantes dos hipermercados de líxívia, cêra e "Pronto". Aproveita-se a última feira para comprar um tapete novo para a casa de banho. Tira-se a toalha de linho da arca do enxoval. E lavam-se estores, cortinas, colchas e tapetes como se não houvesse amanhã. [A minha amiga do 5 a Sec é que deve agradecer, mas bem o merece, até porque está sempre a assegurar os jantares de Sábado à noite à malta :)] No Sul, esta lufa-lufa tende a ocorrer no Verão, e bem, que as coisas secam a tempo e horas e a malta não anda a derreter dias de férias em actividades de faxina...

Apesar que isto das arrumações tem muito de catártico. Não, não é como diz a S., que nesta altura só anda atarefado quem varre o lixo para debaixo do tapete ao longo do ano. Faz parte do pacote dos rituais proceder a uma limpeza das gavetas, estantes e armários. E tem o seu quê de solene, já que nos impele a tomar sérias decisões acerca da preservação, reciclagem ou destruição implacável de variadíssimos artefactos. E os piores armários empurra-mos a minha mami. E, invariavelmente, acontece mais ou menos isto

bilhetes do cinema com preço em escudos? Desta vez vão mesmo para o lixo.

soutiens sem aro? Lixo.

CDs não identificados? Por de lado para papi utilizá-los para enxotar os pássaros no campo.

textos sobre a didáctica do ensino de Inglês em espanhol não sublinhados nem sequer furados ou, pior, não agrafados? Lixo.

E depois, as fotos. O quarto revirado, caótico, revestido de velhos rectângulos mono ou mullticromáticos gritando exercícios de memória urgentes.

Bem, mas o melhor deste ano, foi, como habitualmente, o pequeno almoço pascal. Pão de ló com queijo e vinho do Porto - ui ui - e casa cheia. Uns errantes, outros mais fiéis. Uma manhã regadinha, dando seguimento ao ritmo da Sexta feira Santa, muito blasfema este ano. Jejum? Só até à hora do jantar: galinha com amêndoa, Casal Garcia, um Licor Beirão para acamar, um fino para matar a sede e uma Vodka, só uma, no Sardinha. Onde, já que perguntam, não se vêem mais gajos. Quer dizer, gajos maneirinhos, normaizitos. [É assim, camisa desabotoada a mostrar peitaça depilada, lencinho estampado com franjas e botas por cima das calças só o permito ao Isaac Alfaiate, que dizem que é bicurioso, que a mim não me faz diferença. Agora, gajos assim para tête-a-tête, não muito obrigadinha. Bem podem continuar a puxar cabelinhos e a roçar costas como estratégia de aproximação, que não vai lá das pernas. Fechar parênteses]

Para acabar, podia incluir neste texto uma alusão ao meu primo Pascal, o irmão do Olivério, que não têm qualquer relação familiar com a Lícia Dinis, mas não o farei.

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(Fiquei a cismar nisto... No meu tempo, quando os gajos se vestiam para a "naite", o dress code era só uma camisa preta, pró style...)