21 outubro 2008

Já o Chomsky dizia

... que a língua é um sistema dinâmico, elástico, vivo. (Desenganem-se, que não estou a falar nem da língua que temos na boquinha, que serve para lamber o fundo da taça da mousse de manga, nem tão pouco de m-i-n-e-t-e-s, que o Chomsky não devia saber desta sua utilidade. Pronto, vá, retiro o que disse, ele foi, e deve continuar a ser, uma pessoa muito esperta, um linguista, o linguista da gramática generativa!; não merece isto, não sr., não vou tecer mais innendos acerca da sua alegada inactividade sexual).

Portantos, dizia eu, a língua, como instrumento de comunicação, veículo de transformação de ideias, crenças e emoções em palavras e sintaxe, enfim, o sistema complexo que envolve todos os termos que referi, mas não necessariamente nestas correlações, que isto da linguística foi 1 cadeirão, muito desconfortável, que achei por bem armazenar no meu sótão já há uns bons anos.

Ora, o Chomsky foi um futurista. Eu tive a certeza disso este weekend, quando me dei ao trabalho de reflectir sobre o longo e intricado processo da troca do material informático lá na casa dos papis.

Sucede então que o dispositivo fixo que se liga ao telefone e me permite surfar na net na vivenda de Caldas das Taipas, capital da cutelaria e do tuning, avariou. Incumbi, naturalmente, o papi de tratar de o trocar durante a semana. "E como é que se chama isto?", perguntava-me ele. "Ó pai, sei lá, diga que é a CAIXINHA da Internet, que o senhor da PT entende." (Pessoas como eu não incomodam o tico e o teco com pormenores lexicais da área da informática)

Mas como reconheci alguma falta de objectividade na terminologia, perguntei a um alguém como seria o termo científico da coisa. Ao que esse alguém me respondeu que era BOX. Sim, sra, faz sentido. Lá disse ao papi, que memorizou facilmente a designação, porque também para ele fazia sentido. [Ponto da situação: o engenho já tinha passado de caixinha a box. Grandes progressos.]

(2 dias depois) - "Ó filha, telefonei para a PT, mas não me entendi com o sr, disse-me para ligar o computador, mas não pude, porque levaste o carregador e não chegámos a entendimento. ´Tá tudo em águas de bacalhau."

-"Pai, diga que foi o MODEM que avariou, que não liga sequer. [Disse-me 1 amigo que era, afinal, assim que se chama o dispositivo. Who cares?] Não há margem para conversa, é pa trocar e pronto. Beijinho".

Estava o caso em andamento. Chegada a casa, volvida semana e meia, constato que o modem já lá estava. Fixolas. Vou para ligá-lo, azar. No ecrã surgia-me uma informação do Speed Touch, dizendo que havia um problema, porque o equipamento não estava associado ao-não-sei-das-quantas, precisava do username e da password, réu-béu-béu, pardais ao ninho.

Vai de ligar pró call center. "Olhe, precisava disto assim-assim.(...)"

Operador de voz sexy mas paciência reduzida dado o adiantado da hora, nocturna, é bom que se saiba: Qual é a referência do seu Speedtouch?

Eu: Não vejo referência nenhuma. Só diz Speedtouch.

Operador sexy impaciente: Então diga-me quantas luzes tem.

Eu: (Mau...) Luzes? As cores? É isso, as cores? Fundo branco, letras azuis e vermelhas. Luzes não. (Não via luzes no ecrã, pois claro que não)

Operador impaciente (misto de gargalhada contida com fúria impaciente na voz): As luzes, sim. Agarre no aparelho e veja-me o estado delas e se não haverá uma referência por baixo da caixa...
Eu: [Ahhhh! "NO APARELHO"!!!! Então na é para olhar para o ecran, onde diz, efectivamente, Speedtouch...] Sim, sr, espere lá, então é referência nº ... (...)

Operador muito impaciente, mas vendo luz(es) no fundo do túnel: De momento, estamos com dificuldades, blá blá, volte a ligar amanhã, que atribuímos-lhe uma nova palavra passe e resolvemos o assunto.
Entretanto, quiçá fruto deste diálogo algo surreal, brotou de mim uma súbita e inusitada revelação. Deu-se-me para reiniciar o portátil, abrir o internet explorer e... funciminou! :)
Conclusão: caixinha, box, modem, speedtouch. A galopante revolução terminológica. O Chomsky é que a sabia toda. Grande homem.

9 comentários:

Anónimo disse...

Eu já sabia desta lol
Mt bem escrito
Beijoca
1,2,3 Isabel eheehh

Anónimo disse...

O texto está bom. O chomsky se percebia de lingua tb devia perceber do acto com a lingua em si e ri com a situação mas a formatação do texto não está grande coisa... «:s

irre_place_able disse...

Essa tua aventura está simplesmente fenomenal! Mas pra próxima ensina o senhora que isso não se chama APARELHO mas sim MODEM, e que SPEEDTOUCH é apenas a marca do MODEM! Assim sais por cima, vale?! :P

Kiss

Anónimo disse...

E se começasses a citar Chomsky (nome q já n ouvia desde os tempos da Semiótica na UM...), ías ver a voz sexy do gajo a mudar..

Curti bués o teu relato!

Anónimo disse...

em,

Os comentários estão a um nível intelectual muito acima do meu... Também não estou cá para competir, além disso estou em vantagem neste querido Portugal, onde, tradicionalmente, quem tem cunha é rei, ou melhor é irmão!
Parabéns maninha! Adorei! Consegui visualizar cada momento!
Beijinhos

u João disse...

Olá!Um dia, todos passamos, por uma situação idêntica, que é a discrepância na terminologia usada, porque quem quer ter, um serviço a funcionar, e um senhor ou sra do outro lado, que só parece estar interessado em nos complicar a vida :)
Fiquei a conhecer Chomsky e os variados atributos da língua.
Beijo

Ianita disse...

Perdeste-me no Chomsky. Só de ler este nome tremo toda. Daqui a pouco estás a falar em triângulos semióticos e em Jakobson e no círculo de Praga... e nos russos... ui! Tenho trauma, daqueles bem graves.

Kiss

Isandes disse...

Bro, miss U

João, seja bem-vindo!

Volta Ianita! Não podemos deixar k o chomsky se intrometa na nossa relação! :)

Anónimo disse...

chomsky à parte, estou a visualizar a situação do speedtouch, modem, luzinhas... tipicamente Isandes(as)hi hi! Só tu mesmo! Eu assisti a esse telefonema para o teu pai e já na altura dei uma daquelas gargalhadas ao estilo Zé Almeida.
Gostei imenso do teu relato, fizeste-me rir aqui neste Alentejo profundo. Kiss amiga Isabel.
Célia